As queimadas recorrentes no estado de São Paulo são mais preocupantes do que parecem. Além da perda de grande parte da biodiversidade, a qualidade do ar vem piorando e, consequentemente, assustando os brasileiros diariamente.
Umidificadores de ar, ventiladores e ar-condicionados têm se tornado os melhores amigos dos paulistanos. As queimadas estão acarretando um aumento significativo na compra e consumo desses eletrodomésticos.
O que, por um lado, favorece os vendedores, encarece o bolso e a saúde do brasileiro. Cada vez mais, filas longas são vistas em postos de saúde e hospitais, e as reclamações são as mesmas: problemas respiratórios.
A crise ambiental desencadeada pelas queimadas vai muito além do incômodo causado pela fumaça. A perda da biodiversidade local impacta diretamente o equilíbrio ecológico, afetando a fauna e a flora, além de contribuir para o aumento do efeito estufa. As áreas devastadas tornam-se mais suscetíveis à erosão, o que pode levar ao assoreamento de rios e a outros problemas ambientais. A longo prazo, essas consequências podem comprometer a disponibilidade de água e alimentos, afetando a vida de milhões de pessoas.
Tosse seca, falta de ar, coriza e espirros são alguns dos diversos sintomas sinalizados pelos muitos pacientes nesta semana. A má qualidade do ar afeta diversas camadas da sociedade, com impactos diferentes dependendo de fatores socioeconômicos, geográficos e de vulnerabilidade individual. No entanto, as consequências não podem ser necessariamente revertidas.
Crianças, idosos e pessoas com doenças preexistentes são os mais vulneráveis aos efeitos da má qualidade do ar, sofrendo com maior frequência e intensidade os sintomas respiratórios e outras complicações de saúde.
Além dos impactos na saúde individual, a poluição do ar também gera custos elevados para a sociedade. Aumento nos gastos com saúde, perda de produtividade no trabalho e redução na qualidade de vida são algumas das consequências econômicas e sociais da má qualidade do ar. A longo prazo, os custos para tratar doenças relacionadas à poluição podem sobrecarregar o sistema de saúde e impactar negativamente a economia.
Os principais agentes das queimadas ainda não têm suas identidades reveladas. Mesmo assim, é evidente a causa da ação criminosa: espaço. Os motivos são inúmeros, mas destacamos alguns:
Expansão da agropecuária
Muitas queimadas ilegais são realizadas para abrir espaço para pastagens e plantações. Essa prática é comum em áreas de floresta, onde o desmatamento é feito para expandir a produção agrícola ou criar áreas para gado.
Grilagem de terras
Queimadas ilegais são uma tática usada por grileiros para forçar a posse de terras públicas ou áreas de proteção ambiental. A prática consiste em destruir a vegetação nativa para, posteriormente, reclamar a posse da terra e regularizar o título.
Conflitos fundiários
Queimadas podem ser usadas como uma forma de pressão ou retaliação em conflitos de terras entre fazendeiros, comunidades indígenas, quilombolas ou pequenos agricultores. Em muitos casos, terras são incendiadas para enfraquecer a resistência de comunidades locais.
Especulação imobiliária
Algumas áreas, especialmente em torno de grandes cidades, sofrem queimadas ilegais para valorizar o terreno, o que facilita a venda para futuros empreendimentos ou projetos de construção.
Interesses econômicos e lobby político
Em algumas situações, grupos poderosos com interesses econômicos, como a indústria madeireira ou grandes produtores de commodities, pressionam por leis mais flexíveis ou não cumprem as legislações ambientais. Isso contribui para que queimadas ilegais sejam vistas como uma forma rápida de acessar recursos naturais.
A falta de fiscalização e a impunidade são dois agentes essenciais para o êxito dessa ilegalidade. Em muitas regiões, a fiscalização ambiental é fraca, o que permite que as queimadas criminosas ocorram sem punição significativa. Outro ponto é que a falta de responsabilização incentiva e subsidia os criminosos a continuar com essas práticas.
Quando os responsáveis por essas ações não enfrentam punições adequadas, a impunidade se torna um estímulo para que outros infratores sigam o mesmo caminho, perpetuando a destruição ambiental. Sem uma fiscalização rigorosa e a aplicação de penalidades eficazes, as práticas ilegais de desmatamento e queimadas tornam-se rotineiras, alimentando um ciclo de danos irreversíveis.
Em conclusão, os focos ativos de incêndio em São Paulo não só comprometem a biodiversidade, mas também causam uma crise de saúde pública, com efeitos diretos na qualidade de vida da população. O aumento de problemas respiratórios, a sobrecarga nos sistemas de saúde e o impacto econômico demonstram que as queimadas vão além do desmatamento, afetando a sociedade como um todo.
A má qualidade do ar gerada por esses incêndios atinge todas as camadas sociais, mas agrava ainda mais as condições de vida das populações mais vulneráveis, que têm menos acesso a cuidados médicos e proteção ambiental.
É urgente que medidas mais rigorosas sejam adotadas para combater as queimadas criminosas e responsabilizar os agentes envolvidos. A fiscalização ambiental precisa ser reforçada, com punições mais severas para aqueles que desrespeitam as leis e causam danos irreparáveis ao meio ambiente e à saúde pública. Somente com ações coordenadas entre o governo, a sociedade e as entidades de proteção ambiental será possível frear esse ciclo de destruição e preservar o futuro das próximas gerações.