Os testes de colisão, conhecidos como crash tests, são a principal ferramenta para avaliar a segurança de veículos em diferentes cenários de impacto. Realizados pelo Latin NCAP (New Car Assessment Program for Latin America and the Caribbean), essas avaliações utilizam carros reais que são submetidos a colisões contra barreiras para medir a resistência estrutural e a eficiência dos sistemas de segurança dos veículos. A pontuação varia de zero a cinco estrelas, sendo que uma nota elevada reflete maior proteção para motoristas e passageiros. Apesar da importância desses testes, alguns modelos vendidos no mercado latino-americano têm apresentado resultados preocupantes, com notas extremamente baixas ou mesmo zero estrelas.
Nesta reportagem, vamos explorar os carros que ficaram no temido “time de zero estrelas”, mostrando as principais falhas identificadas, bem como os impactos disso para os consumidores e a indústria automotiva.
O Significado do “Zero Estrela”
A classificação de segurança automotiva pelo Latin NCAP avalia quatro categorias principais:
- Proteção para ocupantes adultos: mede o impacto no motorista e no passageiro da frente em colisões frontais e laterais.
- Proteção para ocupantes infantis: analisa a segurança para crianças em cadeirinhas e a possibilidade de desativar o airbag do passageiro.
- Proteção para pedestres: verifica o impacto de colisões com pedestres.
- Sistemas de assistência à segurança: examina a presença e eficácia de tecnologias como frenagem autônoma, alerta de colisão, entre outros.
Um carro que recebe zero estrelas falha em proporcionar níveis mínimos de proteção em várias dessas categorias. Isso significa que, em caso de acidente, tanto motoristas quanto passageiros enfrentam sérios riscos de ferimentos ou até mesmo morte.
Os Modelos Reprovados e Suas Falhas
1. Citroën C3 Aircross (teste em 2024)
- Proteção para adultos: 33%
- Proteção para crianças: 11%
- Proteção para pedestres: 50%
- Sistemas de segurança: 35%
O C3 Aircross apresentou problemas sérios na segurança de adultos e crianças. Embora a cabeça e o pescoço do motorista estivessem bem protegidos em impactos frontais, o tórax foi altamente vulnerável. Além disso, os joelhos do motorista e do passageiro correm risco de impacto em estruturas perigosas no painel. Para crianças, a impossibilidade de desativar o airbag do passageiro compromete a instalação segura de cadeirinhas infantis.
2. Citroën C3 (teste em 2023)
- Proteção para adultos: 31%
- Proteção para crianças: 12%
- Proteção para pedestres: 50%
- Sistemas de segurança: 35%
Os problemas do C3 são semelhantes aos do Aircross. A proteção para adultos é baixa, especialmente no tórax e nos joelhos. No caso das crianças, a falha em desativar o airbag do passageiro aumenta os riscos durante o uso de cadeirinhas, comprometendo a segurança dos pequenos ocupantes.
3. Jac E-JS1 (teste em 2022)
- Proteção para adultos: 0%
- Proteção para crianças: 6%
- Proteção para pedestres: 20%
- Sistemas de segurança: 7%
Este foi o único veículo elétrico a integrar o time de zero estrelas. O Jac E-JS1 apresentou falhas graves em praticamente todas as categorias, com destaque para a vulnerabilidade do tórax do motorista e do passageiro em impactos frontais e laterais. O habitáculo também não conseguiu suportar a força dos impactos, comprometendo a segurança estrutural. Para crianças, houve problemas na fixação das cadeirinhas e na proteção do tórax de bonecos que simulavam bebês.
4. Renault Duster (teste em 2021)
- Proteção para adultos: 29%
- Proteção para crianças: 23%
- Proteção para pedestres: 51%
- Sistemas de segurança: 35%
O Renault Duster foi outro modelo que preocupou nos testes. Embora tenha oferecido proteção parcial para os ocupantes, o habitáculo não suportou impactos mais fortes e chegou a apresentar vazamento de combustível após o teste de colisão frontal, um risco extremo em acidentes reais. Para crianças, o rebote da cabeça nas cadeirinhas mostrou ser um problema significativo.
5. Fiat Argo e Cronos (teste em 2021)
Esses dois modelos compactos compartilharam falhas semelhantes, como baixa proteção para os ocupantes adultos e dificuldade em garantir segurança adequada para crianças em cadeirinhas. Apesar de suas popularidades no mercado brasileiro, a ausência de sistemas avançados de assistência à segurança e o uso limitado de airbags contribuíram para os resultados insatisfatórios.
6. Kia Sportage (teste em 2021)
O Kia Sportage, apesar de ser um SUV desejado, também não atendeu às expectativas nos crash tests do Latin NCAP. A proteção insuficiente para ocupantes adultos e a falta de recursos de segurança passiva e ativa pesaram negativamente no desempenho do modelo.
7. Hyundai HB20 (teste em 2020)
O compacto mais vendido do Brasil na época recebeu uma avaliação abaixo do esperado, especialmente no que diz respeito à proteção de crianças. Problemas estruturais e a ausência de sistemas de assistência avançados resultaram na inclusão do HB20 no grupo de veículos com baixa classificação.
8. Ford Ka Hatchback e Sedan (teste em 2020)
Embora o Ford Ka tenha sido um dos carros mais acessíveis do mercado, a falta de airbags adicionais e a baixa resistência estrutural contribuíram para seu fraco desempenho nos testes de segurança. Assim como outros modelos, ele apresentou riscos elevados para crianças e adultos.
Por Que Alguns Modelos Recebem Nota Zero?
A reprovação nos testes do Latin NCAP ocorre principalmente devido a:
- Ausência de airbags suficientes: A maioria dos modelos listados conta apenas com dois airbags (motorista e passageiro), insuficientes para proteção completa em impactos laterais ou traseiros.
- Falta de sistemas de assistência à segurança: Tecnologias como controle eletrônico de estabilidade, frenagem autônoma e alerta de colisão estão ausentes ou são ineficazes.
- Fragilidade estrutural: Muitos veículos têm estruturas que não conseguem suportar impactos severos, comprometendo a integridade do habitáculo.
- Baixa prioridade para segurança infantil: Problemas na fixação de cadeirinhas, falhas no desativamento de airbags e proteção insuficiente para crianças são recorrentes.
O Contraste: Casos de Sucesso nos Crash Tests
Enquanto alguns veículos são reprovados, outros se destacam. Um exemplo recente é a Mitsubishi L200 Triton, que conseguiu a nota máxima de cinco estrelas no último protocolo do Latin NCAP. A picape provou que, mesmo em um segmento mais robusto, é possível combinar resistência estrutural com tecnologias avançadas de segurança.
O Impacto da Nota Zero
Carros com baixa classificação em segurança representam um risco significativo para os consumidores, especialmente em mercados como o da América Latina, onde os padrões regulatórios são frequentemente menos rigorosos do que em outras regiões, como a Europa e os Estados Unidos. Além disso, a conscientização limitada entre os consumidores faz com que muitos priorizem preço e design em detrimento da segurança.
Conclusão: O Que Fica de Aprendizado?
Os testes do Latin NCAP são um alerta para consumidores e montadoras. Enquanto os fabricantes devem investir mais em segurança, os compradores precisam considerar os resultados desses testes ao escolher seus veículos. Carros com nota zero não só colocam vidas em risco, mas também reforçam a necessidade de regulamentações mais rigorosas e de uma maior demanda por segurança no mercado automotivo da América Latina.
Assim, reconhecer o “time de zero estrelas” não é apenas uma crítica aos veículos reprovados, mas um convite à reflexão sobre a importância de priorizar vidas acima de qualquer outro aspecto na produção e escolha de automóveis.
