Stellantis tem prejuízo de mais de 2 bilhões de euros no 1º semestre, agravado pelo tarifaço dos EUA

Stellantis tem prejuízo de mais de 2 bilhões de euros no 1º semestre, agravado pelo tarifaço dos EUA

A Stellantis, gigante automotiva responsável por marcas como Fiat, Peugeot, Chrysler e Jeep, divulgou um prejuízo preliminar de 2,3 bilhões de euros no primeiro semestre de 2025. A montadora enfrenta um cenário desafiador, marcado por tarifas punitivas dos Estados Unidos, reestruturações internas e queda nas vendas em mercados estratégicos. As perdas contrastam fortemente com os resultados positivos do mesmo período do ano passado, quando a empresa registrou um lucro líquido de 5,6 bilhões de euros.

Segundo o comunicado divulgado nesta segunda-feira, os encargos totais somaram 3,3 bilhões de euros antes dos impostos. Esse montante inclui a descontinuação de projetos, provisões relacionadas a penalidades ambientais nos Estados Unidos e investimentos direcionados à produção de modelos híbridos e a gasolina — focando tanto nos mercados europeus quanto norte-americanos. A empresa afirma que esses custos foram necessários para reposicionar estrategicamente sua atuação global.

As tarifas impostas pelo ex-presidente Donald Trump seguem afetando negativamente a Stellantis. Embora Trump já não esteja no cargo, seus efeitos permanecem. Estima-se que essas tarifas tenham custado cerca de 300 milhões de euros à montadora, principalmente devido à redução no envio de veículos aos EUA e aos cortes na produção para equilibrar os estoques. Tais medidas impactaram diretamente o desempenho da empresa no segundo maior mercado automotivo do mundo.

Os resultados ruins já eram parcialmente esperados pelos analistas. Philippe Houchois, do banco Jefferies, comentou que, embora os números tenham sido piores que o consenso, o mercado já previa um primeiro semestre fraco. Já os analistas da Bernstein apontaram que, apesar da perda expressiva, as ações de reestruturação da empresa indicam uma postura mais decisiva da nova gestão. Para eles, isso representa um possível ponto de virada.

A nomeação de Antonio Filosa como CEO em maio marca uma tentativa de reorganização da Stellantis após a saída de Carlos Tavares. Filosa chegou ao cargo em meio à insatisfação com o desempenho nos Estados Unidos, que vinha sendo um problema constante para a companhia. Em sua primeira grande declaração, ele afirmou que 2025 será “um ano de melhoria gradual e sustentável”, destacando a necessidade de foco em inovação, adaptação às novas regulamentações e controle de custos.

Filosa também reforçou que, apesar do semestre difícil, a empresa apresentou progresso em relação ao segundo semestre de 2024. Em carta interna aos funcionários, divulgada pela Reuters, o executivo reconheceu os ventos contrários, mas apontou avanços importantes em áreas como eficiência produtiva e planejamento estratégico. A expectativa da nova liderança é recuperar a rentabilidade de forma consistente e sustentada ao longo do próximo ano.

As vendas da Stellantis na América do Norte caíram expressivos 25% no segundo trimestre em comparação ao mesmo período de 2024. A retração evidencia o quanto o mercado norte-americano segue sendo um desafio para a companhia, especialmente frente à forte concorrência com fabricantes asiáticos e à mudança de comportamento dos consumidores, que buscam por carros mais tecnológicos e sustentáveis.

Na Europa, outro mercado estratégico, a situação também não é confortável. A Stellantis reportou queda significativa na demanda, com destaque negativo para o segmento de vans. Esse nicho, antes lucrativo para a empresa, enfrenta dificuldades devido à desaceleração econômica no continente, aumento dos custos operacionais e maior exigência regulatória quanto a emissões de CO₂ — algo que pressiona o portfólio da montadora, ainda dependente de modelos com motores tradicionais.

Apesar do cenário adverso, a receita total do grupo no primeiro semestre foi de 74,3 bilhões de euros. O número, embora inferior aos 85 bilhões do mesmo período de 2024, ficou acima dos 71,8 bilhões registrados no segundo semestre do ano anterior. Isso indica certa resiliência na operação, especialmente em regiões onde a empresa ainda mantém boa participação de mercado, como América do Sul e Oriente Médio.

O impacto das tarifas americanas sobre a Stellantis traz à tona um debate importante sobre a globalização da indústria automotiva. O aumento de barreiras comerciais tem afetado o livre fluxo de peças e veículos entre países, forçando as montadoras a revisar suas cadeias de produção. Isso pode encarecer produtos, reduzir a competitividade e atrasar a modernização das linhas.

Além disso, a pressão ambiental também pesa sobre o setor. A Stellantis enfrenta obrigações cada vez mais rigorosas em relação às emissões e à sustentabilidade dos veículos. As multas que a empresa provisionou neste semestre estão relacionadas a regras antigas, mas reforçam a necessidade de acelerar a transição energética. Para isso, investimentos em eletrificação e tecnologias limpas se tornaram indispensáveis.

De fato, a Stellantis tem destinado recursos significativos para a transformação do seu portfólio. A empresa anunciou, recentemente, uma série de projetos voltados à produção de veículos híbridos e elétricos. Na Europa, o foco está na ampliação de fábricas para atender à nova demanda; já nos Estados Unidos, a prioridade tem sido o desenvolvimento de SUVs a gasolina mais eficientes, enquanto se adapta ao ritmo de transição do mercado local.

O segmento de picapes e SUVs, aliás, é um dos pilares da Stellantis nos EUA. Marcas como Jeep e RAM são tradicionais nesse nicho, mas vêm enfrentando dificuldades para manter sua atratividade diante de concorrentes mais modernos e menos poluentes. Para reverter essa tendência, a montadora pretende lançar novas gerações desses veículos com motores híbridos e design atualizado, apostando em tecnologias embarcadas e conectividade.

Mesmo diante das perdas, os investidores acompanham com atenção a capacidade de execução da Stellantis. A expectativa é que o relatório financeiro completo, a ser divulgado no dia 29 de julho, traga mais clareza sobre as estratégias de médio prazo. Analistas esperam que a empresa apresente um plano robusto para equilibrar custos, aumentar a penetração de mercado e adaptar seu portfólio às novas exigências de consumidores e governos.

Um fator que também pesa na recuperação da empresa é a sua atuação nos mercados emergentes. Regiões como América do Sul e África têm se mostrado promissoras para veículos de entrada e modelos mais simples. No Brasil, por exemplo, a Fiat — uma das principais marcas da Stellantis — continua liderando o mercado com modelos como o Strada e o Pulse. A estratégia é fortalecer a presença nesses países como forma de compensar as perdas nos mercados desenvolvidos.

Outro ponto relevante é a adaptação da rede de concessionárias ao novo momento da indústria. Com a digitalização acelerada, consumidores exigem experiências de compra mais fluídas e personalizadas. A Stellantis tem investido em plataformas online, programas de fidelidade e test drives virtuais para atrair um público mais jovem e conectado, o que também impacta na operação de pós-venda e manutenção.

A política de sustentabilidade também deverá ganhar protagonismo nos próximos anos. A Stellantis já anunciou compromissos para reduzir sua pegada de carbono e aumentar a reciclabilidade dos veículos produzidos. Isso está alinhado ao movimento global de ESG (ambiental, social e governança), que tem sido cada vez mais exigido por investidores institucionais e consumidores conscientes.

No entanto, o caminho até a recuperação ainda é longo. A Stellantis precisa não apenas modernizar seu portfólio, mas também reconquistar a confiança dos mercados que perdeu espaço nos últimos trimestres. Isso exige agilidade, inovação e uma comunicação clara com seus stakeholders — do consumidor final ao acionista.

As decisões políticas, como o possível fim das tarifas impostas por Trump ou a redefinição de metas ambientais nos EUA e Europa, também influenciarão o desempenho da companhia nos próximos semestres. O setor automotivo global vive um momento de transição, e empresas que conseguirem se adaptar com rapidez terão vantagem competitiva relevante.

Por ora, a Stellantis sinaliza disposição para enfrentar os desafios. As ações de reestruturação, os cortes em projetos menos rentáveis e os investimentos em eletrificação indicam uma direção clara. A missão de Antonio Filosa será transformar essas iniciativas em resultados concretos, restaurando a lucratividade e posicionando a empresa como protagonista na nova era da mobilidade global.

Com um portfólio diversificado, presença global e capacidade de investimento, a Stellantis possui ativos importantes para essa retomada. Mas o sucesso dependerá de decisões estratégicas bem calibradas, especialmente diante de um cenário geopolítico instável, concorrência crescente e consumidores cada vez mais exigentes.

O segundo semestre será decisivo para determinar se a empresa conseguirá converter suas promessas em resultados consistentes. O mercado observa com atenção.

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